quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A diferença entre o "Yin e Yang" e o "Trigo e o Jôio"

Estas duas expressões, tão simples quanto possam parecer, encerram em si diferenças astronómicas nos conteúdos que representam e nas estruturas de crenças que lhes estão subjacentes. O Hinduísmo, e outras religiões e filosofias orientais, assentam numa visão de Mundo em que há uma oposição entre forças opostas que não só é benéfica como é necessária: o Bem e o Mal, a Morte e a Vida, e por aí fora, poderíamos enumerar vários opostos considerados por esta perspectiva como facetas da mesma realidade contínua, inseparáveis. A expressão Yin e Yang simboliza esta visão. Assim, nesta visão, o desenrolar da vida assenta numa infinita alternância entre forças opostas, e o próprio Universo é visto como um mecanismo infinito de expansão/retracção, nascimento/morte, etc. É uma visão da vida como uma roda, em que se retorna aos mesmos pontos e em que as coisas se renovam constantemente numa repetição dos mesmos processos, infinitamente. É uma posição relativista, em que se considera que não há uma Verdade, não há alguma coisa que possa ser considerada má no Universo, uma vez que tudo faz parte e tudo é necessário.

O Budismo, numa "iluminação" inteligente, vem trazer a esta dinâmica circular e repetitiva uma novidade: talvez as coisas não se repitam constantemente, mas haja uma evolução em direcção a uma perfeição que, então, será eterna. Assim, a idéia da reencarnação passa a ter um sentido evolucionista, vislumbra-se o "Nirvana", e admite-se a existência de bens melhores que outros que eventualmente desembocarão numa situação idílica em que se vive apenas o Bem. Porém, esta visão ainda está enraízada no Hinduísmo, impregnada de relativismo e sem uma adesão plena ao Absoluto. E na mesma situação estão variadíssimas religiões, como as religióes xamanistas, as animistas, etc.

O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo assentam numa visão radicalmente diferente destas duas, apesar da evolução que o Budismo representou. É uma novidade total relativamente a todas as outras formas de espiritualidade. A idéia de Trigo e Jôio é uma metáfora importantíssima nesta visão. Esta metáfora indica que no Universo, tal como o vemos, existe uma mistura intrínseca entre dois opostos, mas considera que essa mistura é indesejável e que procede do Mal. Há logo aqui uma classificação inequívoca da existência de Bem e de Mal, o que implica a existência duma verdade absoluta. É o contrário do relativismo, e é uma novidade relativamente a todas as outras formas de religião, em que o Homem "jogava" entre forças, servindo-se dumas e doutras para os seus objectivos, e não optando claramente pela rejeição do "Jôio". Não se vê o Universo como um ciclo infinito e repititivo entre duas forças opostas e necessárias, mas logo à partida afirma-se a existência dum caminho, duma evolução da mistura para a purificação total: o paraíso. Tudo caminha para o retorno ao Criador, e no fim apenas o Trigo ficará. O Jôio não tem sentido, é inútil e não joga qualquer papel na evolução, a não ser o de pedra de tropeço inútil. Isto implica também que haja coisas em relação às quais não se veja nada de positivo: a maldade, o materialismo, a guerra, etc.

Ao introduzir uma divisão entre coisas boas e coisas más, esta visão pode provocar naqueles que a vêem uma sensação desagradável, uma necessidade de escolher bem, uma sensação de que nem tudo o que faz e vive pode ser bom, o que é incomodativo. Aliás, o próprio Jesus referiu que as suas palavras eram como uma espada de dois gumes, e que iriam trazer a divisão, e uma das maiores razões para que as pessoas rejeitem a sua proposta, é pelo facto de se sentirem ameaçadas pela ideia de que podem ter que largar algumas coisas que nesse momento prezam (o Jôio). Esta é, provavelmente, também a razão pela qual uma visão de mundo em que tudo é bom atrai tanta gente para as filosofias orientais: a desculpabilização, a validação de todos os seus desejos como sendo bons, a pacificação da consciência (não pela conversão, mas sim pela eliminação daquilo que a põe em causa).

Quanto a mim, não tenho dúvidas. Jesus chama ao diabo o príncipe da mentira. Ou seja, o mal aparece como bem àqueles que se deixam enganar. E que engano mais redondo existe do que aquele que considera que nem existe Bem nem Mal, e de que tudo é necessário? Como diz Santo Agostinho, "ama e faz o que quiseres". Mas se não amares, por mais que te custe, nem tudo o que fazes é bom, pois o Absoluto, a Verdade, e a única coisa que não passará, é o Amor.

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